domingo, 18 de setembro de 2011

Primeira carta ao Doutor M.





Você tirou a barba e deixou de lado aquela armação redonda, atrás das quais se escondia. 
Continua bonito, como achei desde a primeira vez.
Mas continua se escondendo, afinal foi assim que escolheu. (Eu acho)
É um direito seu, não posso fazer nada.
Não posso nem falar um oi.
Pensava um dia ter me amado.
Mas acho que fui apenas uma tentativa pra sair do seu silêncio e viver como nós - pobres mortais.
Talvez eu esteja sendo pretensiosa.
Não fui realmente nada. Fui descartável.
Mas a vida também é descartável.
Quase sempre descartada. 
Deixada, levada, sofrida, anestesiada.
E nada.
Não se manda uma gata dizer adeus a quem se ama.
Ah! A gata. Talvez a Lola tenha me amado.
Talvez fizesse festa se um dia me encontrasse.
Talvez você tenha me amado.
Talvez eu ainda não saiba o que dói menos.
Quando descobrir, talvez eu deixe de te amar.
Ou te ame a vida inteira.
Mendigando, nem que seja, migalhas virtuais.

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