segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Almas Desnudadas

Desnudamos um ao outro,
um pro outro.
Mas sempre haveremos
de nos despir.
Pois nossas almas inquietas,
irrequietas,
se vestem e revestem
num assopro,
num sussurro.
Nos despiremos a vida toda,
toda a vida,
um ao outro,
um pro outro. 

De repente ... Acontece!

Sorriso que não morreu
Espelho velando o belo
Respostas sem perguntas
Entremeios de uma vida
Nudez que se reveste
Dias que se alongam
Infinito que tem um ponto
Procissão de vela acesa
Interregno desreinado
Dessa dor que vai sarando
Anoitecer que beija a lua
Deslindados corpo e alma
Escrevendo sua história

... nada ...

Cala o teu silêncio mais uma vez.
Esconde tuas mãos
aleijadas de carinhos negados.
Pernas pesadas,
ombros caídos,
olhar pro umbigo.
Mete na concha o pouco que te restou.
Aprisiona-te na tua razão.
Vascular que não pulsa,
rio que já secou.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Amor dos E.T.s

Amor de ET é Entrega Total
é estarmos Enamorados Totalmente
é sermos apontados como Enganados Tolamente
é sentir-se: Eternamente Teu
é tornar-se um Estuprador de Travesseiros
em noites que não terminam
é dizer que ela é seu Eterno Tesouro
é fazer com que ela se diga
Embevecida de Tesão
é saudá-la com doce elogio:
Escritora Talentosíssima
é saber que somos Extra Tentadores
é saber que Estratos Terrestres
não nos são limites

Amor correspondido

Amor correspondido
Amor correspondência
Amor pintado em tela
De pincel digitado
Amor que não tem voz
gritando a existência
amor que falta a carne
Amor que falta a mão
exala, lambuza e chora
Amor que não tem hora
Que nunca envelhece
Amor que sempre espera
o fim da imensidão
Amor que só existe

sábado, 22 de outubro de 2011

Lágrimas Renovadas

Depois das densas lágrimas
caindo corrosivamente
sulcos em meu rosto
não deixando a dor
se fazer esquecida

Novas lágrimas chegam
gotas de orvalho
refrescando dias de glória
fazendo dos sulcos
rios
que correm desenfreados
adoçando a alma

Acróstico de Amor

Maio ... Junho
Amor
Infusão
Ode ... desordem
Namorado enamorado
Ardor ... torpor
Ufano coração
Traz leva
Adentra ... viaja ...

Meu Sobrinho Gigante

Davi nasceu grandão
Lindo ...
Branquinho
Enormes olhos acompanhando tudo
Logo começaram a chamá-lo: Gigante

Gigante foi a força que vi nascer em meu irmão
Gigante foi o tamanho do tempo
que ele arrumou pras fraldas e mamadeiras
Gigante foi o amor que ele descobriu
poder sentir por alguém
Gigante é o sorriso que se abre em seu rosto
quando olha pra Davi
Gigante foi em que vimos
meu irmão se transformar

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Amor de Maionauta

Se não acreditar em você,
me desconheço.
Se não acreditar que esse amor já existe,
farei de mim a mais amarga mentira.
Se não te disser que quero

e vou esperar,
estarei desacreditada do meu próprio eu.
Sei que já não me enxergo
sem que possa,

também,
te olhar.

Prece do Maionauta Apaixonado

Viajando:
até o dia seis de outubro
eram apenas duas letrinhas maiúsculas.
Agora,


V - dois caminhos (perdidos)
      que se convergem.
H - dois indivíduos
      unidos pelas mesmas
      (intensas) necessidades.

Rezando:
Senhor,
Tu que olhas pelos bêbados e criancinhas,
por favor,
coloca também na tua lista
os Maionautas Apaixonados.
Que muitas vezes também são
Poetas concurseiros.
Amém!

... e muito obrigada.

A Lojinha

          Aqui em casa, sempre gostamos de cozinhar, e sempre o fizemos muito bem. Nossos doces eram famosos entre familiares e amigos.
          A mãe se aposentou, a Bela cresceu e ...
          Um dia fui a cidade comprei um balcão frio, uma estufa e três joguinhos de mesa e quatro cadeiras. Passei também numa loja de divisórias e marquei com o senhor que no outro dia fosse em nossa casa pra dividir a enorme sala.
          A casa é grande e temos duas saídas pra varanda, o que foi perfeito, pois uma porta serviria ao que ainda seria nossa sala de estar e, agora, também de jantar; já a outra, seria a entrada da Lojinha. Como a chamávamos carinhosamente.
          Liguei pra mãe e disse: "Comprei tudo, dividi em três vezes e as primeiras prestações vencem no mês que vem (no caso, dezembro, a melhor época pra se tentar qualquer negócio numa cidade de veraneio)
          A mãe fez um longo silêncio. Nos despedimos.
          Chegando a casa, só me restou dizer: "Bem, mãe ... agora é fazer doce!!!"
          Assim começava a Lojinha.
         Precisávamos de mais uma pessoa. E a mim, à mãe e à Isabela se juntou Iva. Uma amiga de velha data, de quem um dia falarei mais especificamente. Uma verdadeira formiguinha, daquelas que acordam já tendo feito, pelo menos cem, das mil coisas que consegue fazer durante um dia. Era nosso chá de ânimo nos momentos mais exaustivos.
          Mas a equipe também contava com duas figuras masculinas. Meu irmão que, além de muito nos ajudar, também enfeitava o balcão com sua presença que nunca passou despercebida aos olhares das moças que aqui passaram (Rodolfo é bonitão e muito simpático!). E tinha o Rafa, filho da Iva. Esse sempre nos dava um pito por não colocarmos tudo milimetricamente distribuído. Só tinha um probleminha ... rs ... seu expediente terminava às nove, ou antes, quando seu corpinho, ainda de 7 anos, era vencido pelo sono e ele deitava no sofá e ali dormia até a hora que Iva o acordava e os levávamos pra casa.
         No lado direito da sala (tendo como referência estar de frente pra varanda) dispomos de maneira aconchegante: um movelzinho, onde guardávamos embalagens e outros do gênero, também onde ficava nossa máquina registradora (uma caixinha de sapatos cuidadosamente encapada); ao seu lado o balcão frio, enfeitado com lindas tortas, quindins e outras guloseimas; em cima ficava a estufa com as pizzas quadradas, que passaram a ser uma referência: "É aqui que vende a pizza quadrada?", e os deliciosos folhados; uma mesa com bolos pra café, assim chamávamos aqueles bolinhos simples, apenas recheados de pura fofura e o lugar dos refrigerantes: uma enorme caixa de isopor, pois foi o que a sobra do dinheiro nos permitiu. Ali ela esteve por dois verões, só no terceiro conseguimos comprar o freezer. Mas era divertido ter que comprar gelo dia sim dia não. Tudo foi divertido naqueles sete verões que se seguiram.
          Na varanda dispomos as três mesinhas com lindas cestinhas cheias de tempero e os porta-guardanapos e canudos. A varanda e o jardim eram atrações a parte, suas belas plantas, que eram delicadamente plantadas e cuidadas por minha mãe, deixavam a todos de boca aberta. Alguém sempre perguntava:  "São de verdade? Brilham tanto. Tem como arrumar uma mudinha?" Entre um doce e outro a mãe ainda tirava as tão desejadas mudinhas. Por pouco não abrimos, também, um horto.
          Por aqui passou muita gente boa. Fazíamos doces e amigos.
          Teve um casal que na primeira vez eram namorados, depois noivos, depois chegaram com as alianças em mãos trocadas, e depois ostentando uma linda barrigona.
          Tinha aquela criançada que chegava no carrinho e. .. de repente ... já pediam seu próprio brigadeiro sem usar apenas a pontinha do dedo. Pontinha essa que vivia adornando o vidro de nosso balcão.
          E tinham os mais crescidinhos que chegaram correndo e ... depois chegavam cheios de charme, aquele charme sem jeito e ainda desconhecido dos adolescentes e sentavam pra paquerar.
          A Senhora do Espírito Santo era muito sorridente. Assim que chegava na cidade vinha me avisar, pois adorava os suspiros que só eram feitos pra ela, o tempo não nos permitia mais que isso. E sua idade a permitia querer qualquer coisa. 
         Os pasteizinhos de ricota com espinafre esperavam a chegada de uma simpática mineira que era vegetariana.
          Tinha um Senhor que vinha elegantemente com sua bengala e sua simpática esposa. Ele adorava uma cervejinha. Aqui não vendíamos bebida alcoólica, mas, assim como a Senhora do Espírito Santo, o fato de ser um octogenário também lhe permitia tais exigências. Nunca faltavam as latinhas de skol no cantinho da caixa de isopor.
           Aí ... 
          A Bela cresceu mais um pouco e teve a Raquel, eu comecei a estudar pra concurso público e a Iva abriu sua própria Lojinha, onde vende uma costela e uns caldos... Hum ...!!!
          Rodolfo passou no concurso público e o Rafa, esse com certeza vai passar no vestibular.
          Mas a mãe não parou com os doces, ela e a Bela ainda os fazem por encomenda, e esses ainda fazem muito sucesso.
          Hoje em dia, quando estamos no portão, e é verão, sempre passa um velho amigo, nos acena e diz: "Poxa, e os doces? Que saudade!"
          Com a Lojinha, reformamos a casa, fizemos o telhado e adoçamos nossas e as vidas de muita gente.

Círculo Vicioso

Por que parir
quando se tem:
Isabela, Raquel e Barbarela?

Coloca pra dormir,
busca na escola,
leva pro Ballet,
ajuda na lição de casa ...
Agora,
tô vindo de uma feira de ciências.

Raquel, quando crescer, quer ser como Bárbara,
que foi na sua primeira balada com Isabela,
que é mãe de Raquel,
que me pergunta todos os dias:
"Titiiiia, quando eu crescer, vou ser que nem a Bárbara?"

Essas três espoletas
e eu aqui
no meio desse círculo vicioso
entontecendo de felicidade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Bandeirinhas, Fogueira e muuuuita Comida.

          Mal o galo cantava e já corríamos pra fora da cama. Não era sempre assim. Geralmente sair da cama era um ato preguiçoso. O Dô era mais suscetível a tal preguiça, o Di mais agitado e eu, a Vi, tinha que controlar esse exército.
          Mas esse dia era diferente. Tínhamos muito trabalho. Um quintal, de terra vermelha batida, todinho para ser embandeirado. Eram metros e metros de bandeirinhas de papel de seda colorido e as que fazíamos de folhas de revista. Fora as correntes, também de revista. Claro que tudo isso já fora o trabalho de dias, quiçá semanas, atrás.
          Começava o reboliço: onde pendurar, quem vai subir na escada, nenhum canto pode ficar descoberto ... Os trabalhos mais perigosos, subir na escada  por exemplo, ficavam por conta do vô que também era o encarregado de fazer os arcos de bambu, que tínhamos no próprio quintal.
          Era o "Arraiá do Nhô Mazinho", mais uma vez, tomando forma.
          Enquanto eu comandava o exército, a Zazá nos comandava e a mãe e a vó colocavam a cozinha pra funcionar.
          Além de toda a arrumação do grande quintal, não podíamos nos esquecer do figurino, não só os nossos, mas os de possíveis desavisados, ou que, simplesmente tivesse lhes faltado tempo de aprontar. Tínhamos sempre chapéus, lenços que seriam fixados com lindas caixas de fósforo encapadas, remendos mil, flores e densa maquiagem. Não podia faltar batom vermelho, sombras verde e azul e muito lápis de olho, pois seriam feitas centenas de bolinhas e muitos bigodes.
          O dia ia se despedindo e o quintal se iluminando com as lâmpadas simetricamente espalhadas.
          A fogueira, já acesa, ficava numa parte mais afastada. Era só queimar e alegrar nossos olhos, sem que possíveis anjinhos pudessem fazer dela algum perigo (o Dô e o Di faziam parte desse exército de anjinhos, eu?, eu não, já era crescidinha).
          Os convidados iam chegando. Modelitos dos mais variados e engraçados, mas sempre repletos de elegância. Cada qual trazia uma iguaria ansiosamente esperada. Tia Alda com sua deliciosa canjica, Mariinha com as cocadas, Tia Jandira com um bucho recheado ... hum!!! ... (sei que pode parecer estranho a alguns paladares menos enriquecidos) ... não sabem o que estão perdendo!
          O encontro era cheio de "interjeições":
          - Como você cresceu!!!
          - Faz umas bolinhas aqui!!!
          - Como tá bonito!!!
          - A quanto tempo!!!
          - Fulano vem?!!!
          - Que bom!!!
          - Hum! Canjica!!!
          - Batata doce!!!
          - Tem um chapéu sobrando!!!
          Muitos ali, esperavam aquela data pra se encontrarem. Família grande é assim, as notícias sempre nos chegam através de alguém que encontrou com o outro alguém e assim vai. Pois quando um encontro acontece tudo que se fica sabendo é logo publicado ao restante do clã. Mas nada como ouvir as novidades dos próprios. E aquela era a melhor ocasião pra isso. Sempre regada com delicioso quentão! Perfeito!
          Ora da quadrilha!!!
          Os pares iam se formando. A grande roda se abrindo e Nhô Mazinho posicionado para guiá-la. Sempre com seu radinho de pilha apoiado nos ombros. O Flamengo poderia estar jogando naquele momento.
          Som na caixa ... a poeira levantava.
          O jogo não precisava ser exatamente o do Flamengo, vai que esse dependesse de algum outro placar pra se classificar. Então ... nossa quadrilha era embalada por jogos de futebol e copos de quentão. E o resultado eram passos feitos mais de uma vez, até três ou quatro. Alguém tentava alertar: - Troca o paaasso Maziiinho!!! Mas ... não havia problema, tudo era festa. E ... Nhô Mazinho era nosso guia.
          Ainda hoje, ouvir música de quadrilha me leva pr'aquele velho quintal. E as bandeirinhas ainda adornam meu coração.

Natal na Casa da Vó

          Aquela sempre foi uma época mágica.
         E o dia tão esperado sublimava-se no fato que, naquele momento, reforçávamos tudo de bom em que acreditávamos para os próximos 364 dias. Natal na casa da Vó era isso.
          Bem ... acho que Natal verdadeiro é isso.
          Claro que haviam todos os adornos que o velho costume cristalizou.
          Eu escrevia cartinhas pro Papai Noel, a minha e as do Dô e do Di. Eles eram pequenos demais para assim fazê-lo. Os coloridos envelopes eram colocados na árvore e... um dia, como num passe de mágica (essas mágicas que mães e vós são mestres em fazer), o Bom Velhinho passava e as pegava. A certeza do presente nos enchia o coração!
          A árvore. Uns anos fazíamos de galhos secos e muito algodão, depois havia uma prateada. Um pouco carnavalesca, mas a amava mesmo assim. Ficava linda com as bolas azuis.
          Bem ... o grande dia chegava - 24 de Dezembro - véspera do Natal.
          A cozinha era um reboliço, isso sempre era, mas ... nessa época ficava mais intenso. O cheiro das carnes assando percorria toda a casa e escapava pela janela, atiçando o paladar dos que no quintal estavam.
          Os figos cristalizados eram os mais esperados. A fruta era colhida num pezinho no próprio quintal. A vó os cozinhava numa calda de açúcar, depois os escorria e então eram recheados, uns com doce de leite, outros com coco. Depois de passados no açúcar eram colocados pra secar. Pronto, a alquimia digna de qualquer divina cozinheira estava feita. A vó era uma divina cozinheira!
          A árvore ficava na sala principal, que era separada da sala onde delicioso banquete seria montado, por uma imponente porta vermelha. Não sei porque, mas sempre amei aquela porta. Por volta das 22:00 a imponente era fechada, e agora, adentrar aquele recinto mágico só depois da meia-noite.
          Momento desesperador, pois nós - eu, Dô e Di - sempre tentávamos um jeito de sermos esquecidos por lá. Os refúgios eram os mais diversos: atrás das cortinas, debaixo das camas ou dentro de algum móvel que acomodasse, mesmo que apertado, nossos corpinhos. Não tinha jeito, tal trapaça já era velha conhecida da mãe e da Zazá, que nos punham pra correr.
          Meia-noite. O milagre acontecera. Passávamos por aquela vermelhidão certos dos presentes. Lá estavam, lindos embrulhos que exalavam todo o amor no qual fomos criados.
          Passados os anos, descobri que não era Papai Noel quem nos trazia os belos pacotes. Talvez eu tenha ficado mais complacente ao elaborar minha lista.
          Pior seria se algum desacreditado (essa espécie nos ronda) tivesse me dito que Papai Noel não existe.
          Mas ele continua vindo. E sempre virá! 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Sursis"

Não sei em qual velocidade andar
na minha ou na do cosmos
Não sei que tempo é o certo
o do meu relógio
ou o da minha alma
Se o oceano é realmente grande
ou
juntando minhas lágrimas
transbordo dois dele
Se verdade é o que vivo
ou tudo aquilo que dói incessante
Se os fantasmas são de carne e osso
ou apenas as vozes do meu coração
Se finco
não só os pés
mas também todo meu corpo
ou deixo o sonho doer
Se prendo a respiração até a morte
ou saio correndo pisando nuvens
No momento
não consigo nem o desespero

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mulheres da Minha Vida

Rachel - vó,
amiga de todo o sempre,
colo pra todo o mundo

Lídia - mãe,
amiga de braços dados,
ninho que nunca deixo

Rosa - tia,
amiga das ligações na madrugada,
paciência ouvindo minhas lágrimas

Isabela - irmã,
filha emprestada
cultivando meus brancos fios

Solange - amiga,
exemplo que colhemos
o que plantamos

Iva - amiga,
formiguinha que nunca cansa,
construção que nunca para

Ana Lina - amiga,
mãe que me foi dada
numa terra mais distante

Emília - amiga (que não posso ter)
me ajudando a encontrar
o caminho de volta do fim do túnel

Regina Celi - amiga,
quem um dia me mostrou que eu podia escrever,
professora de uma vida

Lúcia - amiga,
exemplo que nos pequenos frascos
estão os melhores perfumes

Céo - sogra,
colo de mãe
quando ninguém mais podia 

Roseane - cunhada,
amiga forte
exemplo de superação

Raquel - sobrinha,
razão da minha vida
jundo com Isabela ... rs ... cultivando meus brancos fios

Eu - síntese de todas vocês 

Melhor Escolha

Morra de vez!,
se for pra viver morrendo.
Mas ...
Viver "de verdade",
será sempre a melhor escolha.

Prece do Poeta Concurseiro

Senhor,
Me perdoe por ser Poeta e
estar estudando pra um concurso público
(serviço totalmente burocrático).
Mas ...
Foi uma escolha e (graças à Deus) tenho:
bons cursos,
livros atualizados,
caminha quente.

Senhor,
Me perdoe por sentar pra estudar e
ficar totalmente dispersa.

Senhor,
enquanto eu decido por quê pedir perdão e
o Senhor, por quê me perdoar,
sigo:
(h)ora estudando e,
(h)ora(s) poetando.

Mas ... sempre rezando! 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Última carta ao Doutor M.

Esqueci de avisá-lo:
Você morreu
Foi há três semanas,
ou ... mais ou menos isso
Não tive tempo
Muito estudo,
muita poesia ...
Não ... não precisa se preocupar,
Nada vai apodrecer.
Sua morte foi como uma gota de éter.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Carta a Ivan Cruz (o poema e sua história)

          Há mais de dez anos, passava eu pela frente do Charitas (um espaço na cidade de Cabo Frio onde sempre acontecem exposições ou algo do gênero) e vi que ali  encontravam-se lindos quadros. As cores me chamaram a atenção. Entrei. Cada quadro fazia com que meus olhos transbordassem. Cheguei até a pensar que os outros poderiam estar notando tamanha emoção mas ... minha mãe me ensinou a não ligar pro que os outros pensam.
          Ao final do passeio, deixei o seguinte recado para o artista:

Retrospecto da infância
Lágrimas nos olhos
Gosto de cocada e broa
Imagem nítida
De quem há cinco anos
Me deixou
Que saudades da casa da vó Rachel
Da amarelinha
Do canudo de mamona
Pra fazer bolhas de sabão
Saudades de Tudo
Doces Lembranças
Obrigada por esse momento

Ass:Virginia

          Recado esse que Isabela conseguiu resgatar -  depois de pedir à filha do artista que a emprestasse o livro de assinaturas de presença, que Ludmila gentilmente procurou e cedeu - presenteando-me com uma xerox, no dia das crianças.
          Como tudo isso aconteceu:
          Uns dias atrás, chega Isabela dizendo que seria feita uma exposição do Ivan Cruz aqui na cidade (Arraial do Cabo) e que ela estava ajudando a organizá-la. Fiquei muito feliz com aquilo e ... mais uma vez ... Ivan me trouxe belas recordações. Peguei a caneta e escrevi "Carta a Ivan Cruz", que segue abaixo. Coloquei-a num envelope e pedi que Raquel (minha sobrinha) a entregasse assim que chegasse à inauguração da vernissage. Assim ela o fez. E qual não foi a surpresa de minha irmã quando esse admirável artista disse que leria algo que acabara de receber das mãos de uma criança. E lá estava meu envelope, agora dele ... rs
          Eu não estava lá mas ... com certeza foi um dos melhores momentos da minha vida.

          Que bom ter minha irmã Isabela.
          Que bom que essa irmã tem uma filha Raquel.
          Que bom existir Ivan Cruz.
          Que bom ele ter uma filha Ludmila.

"Carta a Ivan Cruz"

Foi assim que te conheci:
Passava, desatenta, pela rua
e suas cores, num doce abraço,
levaram-me pr'aquele recinto
onde seus quadros,
pendurados na parede,
fizeram com que lágrimas,
penduradas em meus olhos,
transportassem-me
pro velho quintal de terra vermelha.
Todas aquelas cores,
todas aquelas brincadeiras,
todos aqueles jogos,
eram a história da minha infância.
A simplicidade do traçado
se fez caminho de oz.
E no fim
ficou o gosto quente
da broa de milho da minha vó.

A mim, só restou prestar singela homenagem:
Um sorriso de criança,
que muitas vezes,
esquecemos ainda habitar a alma,
mas que suas telas sempre hão de nos lembrar.

sábado, 8 de outubro de 2011

Recordação da casa da Vó

Não deveria ter voltado
ao corpo da recordação
Ainda mais quando doce mel
Queremos, desesperadamente,
fazer presente aquilo que
já não mais existe no meio da matéria
Aquela doce fotografia
que adorna a parede de nossa alma
só tem beleza na inércia
Mas os inquietos de espírito,
assim como eu,
teimam em enxergar por entre a bruma
E ao se depararem ...
A beleza da recordação
até então pura lisura
se liquefaz
em lágrimas sem tempo de cessar

PS:
Se a Vó e o Vô já não se encontram mais
na casa onde moravam,
não vá mais lá.
Mesmo que seja pra mostrar a uma amiga,
onde foi, na sua infância,
o lugar mais maravilhoso do mundo.
Pois você pode encontrar
apenas mato alto
e a total ausência das flores.

O Poeta

Demiurgo desajeitado
que molda lágrimas
com mãos sem dedos
Cinzel rasgando a própria carne
esculpindo sorrisos na dor
Verdades indizíveis
flutuando sem norte
Celeuma da alma
que não conhece descanso

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Maionauta"

     Eu deveria estar estudando. Mas estou aqui, ainda intrigada por não ter encontrado essa palavra.
     A primeira procura foi no dicionário, "o Aurelião" - como o chamo carinhosamente. 435 mil verbetes, locuções, definições. Comprei-o em 12 vezes. Mas não tem "maionauta".
     Até naveguei, também não encontrei. Me senti aliviada, seria uma decepção imponente livro, que adorna minha estante e curiosidade, não ter tal palavra e eu encontrá-la na internet.
     Bem ... o jeito foi dissecá-la.
     "Nauta" - sabemos o que é - que navega.
     "Maio" - o quinto mês do ano (deduzi ser esse o significado usado por conta do detentor de intrigante perfil ser geminiano, e esses são nascidos entre 21 de maio e 20 de junho - assim como eu); por outro lado, maio também é relacionado à primavera - tempo de flores e alegria - como o próprio dicionário nos fala.
     Primeiro pensei em quem navega nas flores: abelhas, borboletas, pássaros. Quem tem o pólen agarrado às suas patas e assim o carrega. A fecundação depende disso.
     Mas ... o pólen também é levado pelo vento. Nesse caso, o maionauta não seria quem carrega o responsável pela fecundação, mas sim o próprio responsável por essa, aquele capaz de produzir.
     Não sei o que maionauta significa pra esse distinto rapaz do site de relacionamentos, tampouco quero saber se em algum lugar encontramos tal verbete.
     No meu dicionário, o seu significado é:

MAIONAUTA: aquele que produz deixando-se levar pelos ventos da vida.

    

Encontrei Wittgenstein num site de relacionamentos.

     É ... eu tenho um perfil num site de relacionamentos. Isso pode ser decepcionante para alguns.
     Mas minha rendição à internet (O revisor ortográfico sempre seleciona essa palavra, quer me obrigar a escrevê-la com maiúscula, isso não seria rendição e sim personificação, aí é demais pra mim.)  não seria completa se não tivesse feito isso ... rs
     Perdoem-me pelas divagações, são mais fortes que minha vontade em manter um texto fluente. Quem me conhece não se espanta. Falo de mil coisas ao mesmo tempo, me perco, ma acho, e eles continuam me amando ... rs (e rio muito também).
     Bem ... voltemos a Wittgenstein. De repente me deparo com um perfil onde a frase de chamada era uma citação dele - "Não só os obstáculos nos impedem de prosseguir: às vezes o caminho chegou ao fim." - adorei esse encontro.
     Há 14 anos, resolvi ler sobre filosofia e filósofos, e esse foi o meu primeiro, remetendo-me a Santo Agostinho. Outros se seguiram, mas eles sempre foram os queridinhos. Peraí! Há Sartre e Platão.
     Depois de ler todo o perfil, que foi escrito de maneira muito interessante e espirituosa, desliguei essa maquininha e peguei meu amarelado livro sobre Wittgenstein. A leitura, como sempre, prazerosa. Retomarei santo Agostinho e ... me deu saudades de Platão.
     Além desse reencontro proporcionado por tal perfil, ainda tive que recorrer ao dicionário, coisa que adoro e sempre faço. Não sabia o que era "esteta", agora sei, aquele que dá valor à estética. Adorei a palavra, talvez faça poesia com ela.
     Também tive que procurar "veraz". Que absurdo, nunca li ou ouvi essa palavra tão íntima de como sou. Significa pessoa verdadeira. Uso tanto a palavra veracidade... Agora não vou mais dizer que sou uma pessoa que adora falar a verdade, que é muito verdadeira. Direi: "Sou veraz", soa tão doce e, ao mesmo tempo, tão forte. Adorei! (Acho que é porque sou doce e forte ... rs)
     "Maionauta", essa não encontrei, se alguém aí souber, por favor, não se furte em me dizer.
     Já que meu príncipe não sai desse mundo virtual, ou de qualquer outro, vou aproveitando o que de bom desajeitada navegação possa me oferecer.
     Por enquanto sigo abraçada em Wittgenstein. Geralmente é como pego no sono, óculos pr'um lado, livro pro outro.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Repolho e a Poesia























Sempre encontrei repolho: na salada,
cozido com ovos estalados,
trouxinhas com arroz e carne moída.
Um dia desdobrou um papel
e mostrou-mo na poesia.
Me rendi aos seus escritos.
Se poesia é alimento pra alma,
em melhor lugar o repolho não poderia estar.

domingo, 2 de outubro de 2011

Esdrúxula


Adoro essa palavra
Aprendi-a com Pessoa
Num momento ridículo
Que não furto-me em viver
(...)
Apenas os sábios,
que eternizam a juventude
num sorriso de paixão,
deixam-se estampar
a sensação ridícula
do amor que chega.
Sem bater à porta,
de maneira esdrúxula
                              Virginia Rosa


"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"
                             Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)


O Blog (Publicando Poesia)

Olho pra você
Filho que requer cuidados
Ajoelho minh'alma sempre a te pedir perdão
Filho negligenciado
Não fiz pré-natal
Neguei-lhe o peito
E ele berrando
a necessidade de nascer

Surpresa

Não gosto de surpresas
planejadas
publicadas no olhar
nas palavras escolhidas
Gosto da surpresa
que chega como pena
trazida pelo vento
E que se vai ...
num próximo soprar