terça-feira, 8 de dezembro de 2020

"Simplesmente três Borboletas dançantes"

Obra do Artista Maurizio Marino Forte


Os arabescos dão formas às asas
Voo por entre sonhos de bailarina
rompendo os casulos em meio aos rodopios
Pés se fazendo penas
que desenham no ar toda a liberdade possível
Não há palco
não há coxia
nem cortinas
A música
são os olhos atentos
absortos aos movimentos

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

"Minha bicicleta mora nas nuvens´"

 Obra do Artista Maurizio Marino Forte


... e pedalo entre um azul que me acalma
e me banho de amarelo esquentando corpo e alma
subo e desço uma montanha de cores
canso, descanso, pedalo ...
e me escondo do cinza que pesa em meus pensamentos
admiro clarões, me assusto
sinto os primeiros pingos e sigo
e pedalo...
são retas e curvas
de sonhos, lembranças, esperanças
e pedalo ...
e canso
e descanso nesse abraço de algodão

sábado, 31 de outubro de 2020

Santana de Barra e a eterna primavera

 

A casa da Vó Rachel sempre foi um festival de cores, uma eterna primavera pra onde quer que olhássemos.

Logo que se abriam os portões éramos recebidos por um lindo caminho de gérberas amarelas e vermelhas que se elevavam até a varanda. De um lado desse caminho, havia um gramado que entapetava toda a frente dessa, onde lindas roseiras se espalhavam, simetricamente, em canteiros redondos. Próximo ao portão existia um arbusto, um arbustinho, com lindas flores onde pétalas amarelas arredondadas se sobrepunham parecendo uma espiguinha e, outras, mais finas, saiam meio que desordenadas entre essas (como na natureza nada é desordenado, com certeza, havia um motivo para o que, ao meu olhar de criança, parecia o caos). Com o tempo, fiquei sabendo que as flores eram apenas as brancas, as amarelas eram, na verdade, brácteas. O jardim da Vó era um sonho de novidades.

Lembro-me, ainda deste lado, de outro arbusto onde as pequenas flores nasciam roxas e, ao envelhecerem, ficavam brancas, e nessa caminhada iam se matizando, aquilo, a mim, parecia mágica.

Ainda ladeando o caminho de gérberas, porém, à esquerda, havia um enorme flamboyant vermelho, na última curva já o avistávamos, era o anúncio de que, há poucos minutos, chegaríamos ao destino tão esperado. Havia naquela árvore uma cachoeira de orquídeas lilases que abraçava seu tronco. Quando florida, fazia com que os carros parassem e uma foto sempre era pedida.

Nesse gramado tinha, ao centro, um belo pé de xaxim. Ouvir, anos depois, que aquela planta estava em extinção, fazia com que mais que especial, aquele jardim se tornasse um santuário. Próximo à cerca víamos lindas bananeiras de jardim, com seus cachos que sempre me pareceram fofos passarinhos vermelhos com seus grandes bicos amarelos, enfileirados, observando o mundo.

Acompanhando o cortinado, dois lindos bougainvilles, um roxo e outro branco que, quando florido, parecia anunciar o Natal nos polos. Fora os outros tantos, vermelho, lilás, cor de telha, tons de rosa... Logo após, uma carreira de caliandras, explosões branca e rosa num mundo de esponjinhas, aquela parte da fronteira entre a realidade e todos os nossos sonhos era o que mais me encantava, pura paz e leveza que, em alguns metros se transformaria numa imponente sebe de enormes bambus. Mesmo não dando flores... melhor dizendo... mesmo eu nunca tendo visto flores nos bambus, não poderia deixar de citá-los, afinal, foram personagens importantes das nossas brincadeiras por entre esse emaranhado de cores.

Com certeza, deixei de fora dessas linhas muitas e muitas cores que, não nos furtam de sua presença cada vez que fechamos os olhos e nossas mais ternas lembranças nos povoam.


sábado, 24 de outubro de 2020

Alvo Baiano

Tem um moço na Bahia.
Olhar parecendo tímido
e sorriso largo 
de quem é de verdade.

Tem um moço na Bahia,
de fala mansa, despreocupada,
acompanhando a prosa
que me envolve.

Tem um moço na Bahia
que eu nem conhecia,
e parece amigo de infância,
de pés no chão, sujos de lama boa.

tem um homem na Bahia
de costas largas 
e mãos fortes,
que faz o abraço virar ninho.

Tem um homem na Bahia
que me faz morder os lábios
e perder-se o olhar.
... que mexe com a menina...


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diversa



Adoro minha sombra ao meio-dia
Único momento que me faço única
Nos outros instantes
ela me faz lembrar
que sou diversa
Percebendo isso
não há como fugir
Preciso aprender a lidar
com os muitos de mim


quinta-feira, 2 de abril de 2020

"Tres Libertades"




Corpos morreram

libertando-se da dor

Se fizeram pontes

d’onde pensamentos voaram

Sentimentos, desejos e histórias

tatuaram-se no concreto

O cinza subjugou-se ao colorido

A nuvem pesada

dissipou-se em arte

Corpos ainda vivos

agarraram o muro

esmagando sua dor

Emoções ali alijadas

abriram asas

traçando as primeiras linhas

da nova História

Passos inseguros sem direção

mas certos da liberdade do caminhar