domingo, 18 de setembro de 2011

Doutor M. - abril/2009

            Assim que o avistei tive a certeza do reencontro. Um abraço desconsertado. Passei minha mão em seu rosto tocando a pele já conhecida.
            Enquanto esperávamos um táxi, aninhei-me em seu peito. O voo do pássaro, que ia de acordo com o soprar do vento, chegava ao fim. Sem rumo ... havia encontrado seu destino.
            A porta foi aberta. E lá estava eu, de volta ao lar. Tudo no devido lugar. O ambiente acolhedor de braços abertos a minha espera, o cheiro da saudade, o miado doce ... Caminhei até o quarto e, a cada passo, a casa tornava-se cada vez mais ... minha. Abraçando-me. E ele, com os olhos, fazendo o mesmo.
            Tudo que se passou naqueles cinco dias de eternidade, sem começo nem fim, foi um sonho, daqueles que nem o mais desvairado dos poetas consegue ousar.
            O beijo era do mais doce paladar. Me afoguei em sua saliva sem querer salvação. Seus braços foram feitos pra mim e mais nada. Aquele corpo de um metro e noventa era do meu tamanho. Nossas peles se faziam uma e tinha a certeza que aquele homem sempre estivera dentro de mim.
            Olhava aquele prato de tempero picante e tudo era perfeito: os legumes, a massa ... cada erva. Era um embolar de expectativa e certeza misturado aos ingredientes certos. Clarice sobre a mesa testemunhando cada gesto. Havia tudo que eu mais gostava. Tudo feito por aquelas mãos que ora haviam percorrido meu corpo como se ali sempre estivessem.
            Despertar naquela cama ... que era minha, ao lado daquele homem que era e sempre havia sido meu ...
            Dois meses depois - acordo. O mundo havia parado no começo de um suspiro. Como um corpo acabado de ser descongelado, desfaleço, caída ao chão, sem chão, sem ar... Boca seca ainda com o gosto da sua saliva. As recordações são como uma tela de Dali. Escorrem disforme rasgando a pele.
            A mim ... resta-me chorar. Um pranto que nunca imunda, pois se evapora no corpo ainda quente.

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