domingo, 18 de setembro de 2011

Baratas no quarto

Não há baratas no canto do quarto.
Há muito se foram carregando as últimas migalhas.
Nunca pensei que sentiria falta de fétidos insetos.
Elas se foram, sem dizer tchau, sem deixar bilhete.
Nem as baratas deram uma explicação, se foram sem a menor compaixão.
Deve ter sito na madrugada.
Devem ter passado por cima do meu corpo jogado.
Seco, depois da última lágrima.
Será que me olharam com dó?
Ou me acharam uma boçal?
Indigna de qualquer manifestação.
O quarto é puro silêncio.
Me irrita saber que tanta paz pode existir.
E eu aqui desesperada, desfalecida, de quatro, tentando uma reação.
Despenco.
A força de que preciso me falta nesse momento, me falta há muito.
Uma inércia que não me permite sufocar-me.
Não tenho forças pra respirar.
Não tenho forças pra morrer.
Talvez seja só esperar.
Talvez ele volte.
Talvez as baratas.

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