segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Carta a Ivan Cruz (o poema e sua história)

          Há mais de dez anos, passava eu pela frente do Charitas (um espaço na cidade de Cabo Frio onde sempre acontecem exposições ou algo do gênero) e vi que ali  encontravam-se lindos quadros. As cores me chamaram a atenção. Entrei. Cada quadro fazia com que meus olhos transbordassem. Cheguei até a pensar que os outros poderiam estar notando tamanha emoção mas ... minha mãe me ensinou a não ligar pro que os outros pensam.
          Ao final do passeio, deixei o seguinte recado para o artista:

Retrospecto da infância
Lágrimas nos olhos
Gosto de cocada e broa
Imagem nítida
De quem há cinco anos
Me deixou
Que saudades da casa da vó Rachel
Da amarelinha
Do canudo de mamona
Pra fazer bolhas de sabão
Saudades de Tudo
Doces Lembranças
Obrigada por esse momento

Ass:Virginia

          Recado esse que Isabela conseguiu resgatar -  depois de pedir à filha do artista que a emprestasse o livro de assinaturas de presença, que Ludmila gentilmente procurou e cedeu - presenteando-me com uma xerox, no dia das crianças.
          Como tudo isso aconteceu:
          Uns dias atrás, chega Isabela dizendo que seria feita uma exposição do Ivan Cruz aqui na cidade (Arraial do Cabo) e que ela estava ajudando a organizá-la. Fiquei muito feliz com aquilo e ... mais uma vez ... Ivan me trouxe belas recordações. Peguei a caneta e escrevi "Carta a Ivan Cruz", que segue abaixo. Coloquei-a num envelope e pedi que Raquel (minha sobrinha) a entregasse assim que chegasse à inauguração da vernissage. Assim ela o fez. E qual não foi a surpresa de minha irmã quando esse admirável artista disse que leria algo que acabara de receber das mãos de uma criança. E lá estava meu envelope, agora dele ... rs
          Eu não estava lá mas ... com certeza foi um dos melhores momentos da minha vida.

          Que bom ter minha irmã Isabela.
          Que bom que essa irmã tem uma filha Raquel.
          Que bom existir Ivan Cruz.
          Que bom ele ter uma filha Ludmila.

"Carta a Ivan Cruz"

Foi assim que te conheci:
Passava, desatenta, pela rua
e suas cores, num doce abraço,
levaram-me pr'aquele recinto
onde seus quadros,
pendurados na parede,
fizeram com que lágrimas,
penduradas em meus olhos,
transportassem-me
pro velho quintal de terra vermelha.
Todas aquelas cores,
todas aquelas brincadeiras,
todos aqueles jogos,
eram a história da minha infância.
A simplicidade do traçado
se fez caminho de oz.
E no fim
ficou o gosto quente
da broa de milho da minha vó.

A mim, só restou prestar singela homenagem:
Um sorriso de criança,
que muitas vezes,
esquecemos ainda habitar a alma,
mas que suas telas sempre hão de nos lembrar.

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