quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Bandeirinhas, Fogueira e muuuuita Comida.

          Mal o galo cantava e já corríamos pra fora da cama. Não era sempre assim. Geralmente sair da cama era um ato preguiçoso. O Dô era mais suscetível a tal preguiça, o Di mais agitado e eu, a Vi, tinha que controlar esse exército.
          Mas esse dia era diferente. Tínhamos muito trabalho. Um quintal, de terra vermelha batida, todinho para ser embandeirado. Eram metros e metros de bandeirinhas de papel de seda colorido e as que fazíamos de folhas de revista. Fora as correntes, também de revista. Claro que tudo isso já fora o trabalho de dias, quiçá semanas, atrás.
          Começava o reboliço: onde pendurar, quem vai subir na escada, nenhum canto pode ficar descoberto ... Os trabalhos mais perigosos, subir na escada  por exemplo, ficavam por conta do vô que também era o encarregado de fazer os arcos de bambu, que tínhamos no próprio quintal.
          Era o "Arraiá do Nhô Mazinho", mais uma vez, tomando forma.
          Enquanto eu comandava o exército, a Zazá nos comandava e a mãe e a vó colocavam a cozinha pra funcionar.
          Além de toda a arrumação do grande quintal, não podíamos nos esquecer do figurino, não só os nossos, mas os de possíveis desavisados, ou que, simplesmente tivesse lhes faltado tempo de aprontar. Tínhamos sempre chapéus, lenços que seriam fixados com lindas caixas de fósforo encapadas, remendos mil, flores e densa maquiagem. Não podia faltar batom vermelho, sombras verde e azul e muito lápis de olho, pois seriam feitas centenas de bolinhas e muitos bigodes.
          O dia ia se despedindo e o quintal se iluminando com as lâmpadas simetricamente espalhadas.
          A fogueira, já acesa, ficava numa parte mais afastada. Era só queimar e alegrar nossos olhos, sem que possíveis anjinhos pudessem fazer dela algum perigo (o Dô e o Di faziam parte desse exército de anjinhos, eu?, eu não, já era crescidinha).
          Os convidados iam chegando. Modelitos dos mais variados e engraçados, mas sempre repletos de elegância. Cada qual trazia uma iguaria ansiosamente esperada. Tia Alda com sua deliciosa canjica, Mariinha com as cocadas, Tia Jandira com um bucho recheado ... hum!!! ... (sei que pode parecer estranho a alguns paladares menos enriquecidos) ... não sabem o que estão perdendo!
          O encontro era cheio de "interjeições":
          - Como você cresceu!!!
          - Faz umas bolinhas aqui!!!
          - Como tá bonito!!!
          - A quanto tempo!!!
          - Fulano vem?!!!
          - Que bom!!!
          - Hum! Canjica!!!
          - Batata doce!!!
          - Tem um chapéu sobrando!!!
          Muitos ali, esperavam aquela data pra se encontrarem. Família grande é assim, as notícias sempre nos chegam através de alguém que encontrou com o outro alguém e assim vai. Pois quando um encontro acontece tudo que se fica sabendo é logo publicado ao restante do clã. Mas nada como ouvir as novidades dos próprios. E aquela era a melhor ocasião pra isso. Sempre regada com delicioso quentão! Perfeito!
          Ora da quadrilha!!!
          Os pares iam se formando. A grande roda se abrindo e Nhô Mazinho posicionado para guiá-la. Sempre com seu radinho de pilha apoiado nos ombros. O Flamengo poderia estar jogando naquele momento.
          Som na caixa ... a poeira levantava.
          O jogo não precisava ser exatamente o do Flamengo, vai que esse dependesse de algum outro placar pra se classificar. Então ... nossa quadrilha era embalada por jogos de futebol e copos de quentão. E o resultado eram passos feitos mais de uma vez, até três ou quatro. Alguém tentava alertar: - Troca o paaasso Maziiinho!!! Mas ... não havia problema, tudo era festa. E ... Nhô Mazinho era nosso guia.
          Ainda hoje, ouvir música de quadrilha me leva pr'aquele velho quintal. E as bandeirinhas ainda adornam meu coração.

Um comentário:

  1. Através dessa linda lembrança, consigo ouvir os risos,sentir o cheiro das comidas típicas e a alegria desses encontros. Pessoas queridas nunca nos deixam, estão sempre em nossas lembranças."Velhos tempos!!!! Belos dias!!!

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