domingo, 1 de maio de 2022

... tinha uma Serra no meio do caminho ...

 

Meio século, cinquenta anos, cinco décadas, muitos anos, alguns anos, metade do caminho ...

Como tenho tios avós que estão quase chegando aos cem e outros que chegaram, posso estar na metade dele, nunca se sabe, que privilégio!

Nunca sabemos em que momento da caminhada estamos, então, o jeito é andar. E andar faz bem, bem pro corpo, bem pra alma.

Precisei ir até Petrópolis para perceber o quanto estava quieta na minha concha ... bem, na verdade, eu sabia estar bastante quieta na minha concha, mas desconhecia a grande necessidade de corpo e alma caminharem.

E caminhei.

Cada passo na mata era um passo em mim, uma descida íngreme até o adormecido. E, de passo em passo, caminhei e conversei com uma alma que, até então, eu desconhecia estar tão sedenta dessas pisadas.

Na Serra dos Órgãos, toda a minha compleição me fez resgatar movimentos perdidos. As panturrilhas, os joelhos, todo o meu corpo gritava que queria muito todo aquele deslocar-se, todo aquele ballet que a caminhada na mata exige.

Fui bailando, pra lá, pra cá, pisadas curtas, pisadas longas, pisadas firmes.

Comecei a me perguntar com que direito voltaria a hibernar por tanto tempo. Direito nenhum. Até os ursos só o fazem de tempos em tempos.

Antes, em Santa Izabel, em todo o percurso, fui me deparando com  pequeninas porém suntuosas criaturas, cônscias de seus movimentos e de sua movimentação na dança da vida. Senti minha pequenez diante de tanta beleza e desenvoltura, saltos, voos e um rastejar que, mais ainda, meus pés quiseram abraçar aquele solo.

Agradeci à natureza e me pedi perdão, senti a concha desmanchar-se sorrindo.

Agora, sigo de ônibus, de volta pra casa.

A caminhada continua, ela também é feita em cima de motores, rodas ... e, até mesmo em nossas camas, quando precisamos descansar para os próximos percursos. Alguns programados, outros, que a vida nos apresenta de surpresa.

Se devemos segui-los ou não, pois surpresas podem assustar, é só pensarmos que, voltar também é caminhar, a vida não é uma linha reta e nem tem linha de chegada, é só o movimentar-se.

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