segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Segunda carta ao Doutor M.

Você está sozinho, como sempre. E diz não se incomodar, eu entendo.
Tive que ouvir, há semanas, da minha terapeuta, que as pessoas são descartáveis pra mim.
Não me assustou tal colocação.
Até tentei argumentar, mas sei, e ela também soube, ter sido um ato de defesa diante do inesperado.
Será que te amei ou amei me ver num espelho?
Também tentam me consolar, não sei de quê.
Como se estar só fosse um castigo e, inadmissível uma opção.
Claro que sabemos uma opção que a vida nos leva a ter.
Mas que encaramos e abraçamos com ternura.
Com a mesma delicadeza e cuidado que requer um recém nascido.
Também querem que me case.
Você já passou por essa experiência e teve filhos. Mas eu não. E sou mulher.
Isso é uma agravante. Como pode uma mulher não querer casar e ter filhos?
E ainda viver em paz?
Não entendem que se pode ser visceral e mesmo assim, estar em paz.
Paz não é sinônimo de marasmo. Mas não usam dicionário.
Também vivo com meus livros e a água.
Mas essa é sempre fresca.
E quero viver. Sempre.
Me permito morrer apenas por cinco segundos.

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