terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

... como saber?

Sabemos que amamos a mãe, o pai, o irmão, a irmã, os sobrinhos, o vô, a vó... sabemos que os amamos porque assim nos é dito, nos é ensinado.
Com o tempo só vamos percebendo que uns amores são fluidos, tranquilos; já outros, arrastados, barulhentos.
Seguimos aprendendo a vivê-los.
Mas, e quando chega aquela Pessoa que ninguém nos disse se é pra amar, aquela Pessoa que ninguém nos ensinou que é para amar?
Como saberei que é amor o que sinto?
A família, uns a gente ama desde que nascemos, outros, desde que nascem. Mas, e essa Pessoa que chega sem avisar? Como saberei quanto tempo preciso para ter certeza?
Como saberei se esse amor será uma brisa quente de verão ou, será tempestade destelhando minha paz?
Comparo-o aos "amores" que vivi ou, que pensei ter vivido, ou o abraço como criança ao seu presente de Natal?
Criança sempre sabe amar, é bichinho corajoso, ama sem medo.
Será que a cabeça deitada ao travesseiro desejosa de seu peito; será que as lágrimas que escorrem, serenas, do canto dos olhos, nada além de felicidade transbordando; será que essa paz desconhecida; será que  esse sorriso que rasga a boca a todo momento; será que tudo isso é amar?
Será que amar é uma escolha, eu conheço pra depois decidir se amo ou não?
Ou o amor acontece e escolhemos conhecer quem nos pegamos amando?
Por que não podemos simplesmente amar sem precisar que o outro também nos ame? ... bem, isso nós podemos, onde está escrito que não?
Ah!!!! Mas dói...
Não amar também dói.
Não dançar a música que o coração está tocando também dói.
Não sorrir de felicidade se perdendo em infinitos suspiros também dói.
Ah!!!! Então, eu escolho amar!
E, vou chamar de amor o que sinto por essa Pessoa.
... se eu tenho certeza que é amor???
... se eu sei se essa Pessoa me ama???
Bem, deem o nome que quiserem, que eu, simplesmente, continuarei sentindo.
E, se um dia Você, essa Pessoa de quem falei o tempo todo, quiser sentir esse amor junto comigo, será bem-vindo!

domingo, 1 de maio de 2022

... tinha uma Serra no meio do caminho ...

 

Meio século, cinquenta anos, cinco décadas, muitos anos, alguns anos, metade do caminho ...

Como tenho tios avós que estão quase chegando aos cem e outros que chegaram, posso estar na metade dele, nunca se sabe, que privilégio!

Nunca sabemos em que momento da caminhada estamos, então, o jeito é andar. E andar faz bem, bem pro corpo, bem pra alma.

Precisei ir até Petrópolis para perceber o quanto estava quieta na minha concha ... bem, na verdade, eu sabia estar bastante quieta na minha concha, mas desconhecia a grande necessidade de corpo e alma caminharem.

E caminhei.

Cada passo na mata era um passo em mim, uma descida íngreme até o adormecido. E, de passo em passo, caminhei e conversei com uma alma que, até então, eu desconhecia estar tão sedenta dessas pisadas.

Na Serra dos Órgãos, toda a minha compleição me fez resgatar movimentos perdidos. As panturrilhas, os joelhos, todo o meu corpo gritava que queria muito todo aquele deslocar-se, todo aquele ballet que a caminhada na mata exige.

Fui bailando, pra lá, pra cá, pisadas curtas, pisadas longas, pisadas firmes.

Comecei a me perguntar com que direito voltaria a hibernar por tanto tempo. Direito nenhum. Até os ursos só o fazem de tempos em tempos.

Antes, em Santa Izabel, em todo o percurso, fui me deparando com  pequeninas porém suntuosas criaturas, cônscias de seus movimentos e de sua movimentação na dança da vida. Senti minha pequenez diante de tanta beleza e desenvoltura, saltos, voos e um rastejar que, mais ainda, meus pés quiseram abraçar aquele solo.

Agradeci à natureza e me pedi perdão, senti a concha desmanchar-se sorrindo.

Agora, sigo de ônibus, de volta pra casa.

A caminhada continua, ela também é feita em cima de motores, rodas ... e, até mesmo em nossas camas, quando precisamos descansar para os próximos percursos. Alguns programados, outros, que a vida nos apresenta de surpresa.

Se devemos segui-los ou não, pois surpresas podem assustar, é só pensarmos que, voltar também é caminhar, a vida não é uma linha reta e nem tem linha de chegada, é só o movimentar-se.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Couves e Borboletas

 Meus lindos pés de couve

amanheceram desenhados pela fome das lagartas

Sobraram os talos contando a história

Não condeno as famintas

Eram belas folhas suculentas

plantadas para matar a fome

Não a minha ... rs

Agora,

não tenho couves pro refogado

Tenho uma revoada branca invadindo o meu quintal

e

metamorfoseando meus pensamentos


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

"Simplesmente três Borboletas dançantes"

Obra do Artista Maurizio Marino Forte


Os arabescos dão formas às asas
Voo por entre sonhos de bailarina
rompendo os casulos em meio aos rodopios
Pés se fazendo penas
que desenham no ar toda a liberdade possível
Não há palco
não há coxia
nem cortinas
A música
são os olhos atentos
absortos aos movimentos

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

"Minha bicicleta mora nas nuvens´"

 Obra do Artista Maurizio Marino Forte


... e pedalo entre um azul que me acalma
e me banho de amarelo esquentando corpo e alma
subo e desço uma montanha de cores
canso, descanso, pedalo ...
e me escondo do cinza que pesa em meus pensamentos
admiro clarões, me assusto
sinto os primeiros pingos e sigo
e pedalo...
são retas e curvas
de sonhos, lembranças, esperanças
e pedalo ...
e canso
e descanso nesse abraço de algodão

sábado, 31 de outubro de 2020

Santana de Barra e a eterna primavera

 

A casa da Vó Rachel sempre foi um festival de cores, uma eterna primavera pra onde quer que olhássemos.

Logo que se abriam os portões éramos recebidos por um lindo caminho de gérberas amarelas e vermelhas que se elevavam até a varanda. De um lado desse caminho, havia um gramado que entapetava toda a frente dessa, onde lindas roseiras se espalhavam, simetricamente, em canteiros redondos. Próximo ao portão existia um arbusto, um arbustinho, com lindas flores onde pétalas amarelas arredondadas se sobrepunham parecendo uma espiguinha e, outras, mais finas, saiam meio que desordenadas entre essas (como na natureza nada é desordenado, com certeza, havia um motivo para o que, ao meu olhar de criança, parecia o caos). Com o tempo, fiquei sabendo que as flores eram apenas as brancas, as amarelas eram, na verdade, brácteas. O jardim da Vó era um sonho de novidades.

Lembro-me, ainda deste lado, de outro arbusto onde as pequenas flores nasciam roxas e, ao envelhecerem, ficavam brancas, e nessa caminhada iam se matizando, aquilo, a mim, parecia mágica.

Ainda ladeando o caminho de gérberas, porém, à esquerda, havia um enorme flamboyant vermelho, na última curva já o avistávamos, era o anúncio de que, há poucos minutos, chegaríamos ao destino tão esperado. Havia naquela árvore uma cachoeira de orquídeas lilases que abraçava seu tronco. Quando florida, fazia com que os carros parassem e uma foto sempre era pedida.

Nesse gramado tinha, ao centro, um belo pé de xaxim. Ouvir, anos depois, que aquela planta estava em extinção, fazia com que mais que especial, aquele jardim se tornasse um santuário. Próximo à cerca víamos lindas bananeiras de jardim, com seus cachos que sempre me pareceram fofos passarinhos vermelhos com seus grandes bicos amarelos, enfileirados, observando o mundo.

Acompanhando o cortinado, dois lindos bougainvilles, um roxo e outro branco que, quando florido, parecia anunciar o Natal nos polos. Fora os outros tantos, vermelho, lilás, cor de telha, tons de rosa... Logo após, uma carreira de caliandras, explosões branca e rosa num mundo de esponjinhas, aquela parte da fronteira entre a realidade e todos os nossos sonhos era o que mais me encantava, pura paz e leveza que, em alguns metros se transformaria numa imponente sebe de enormes bambus. Mesmo não dando flores... melhor dizendo... mesmo eu nunca tendo visto flores nos bambus, não poderia deixar de citá-los, afinal, foram personagens importantes das nossas brincadeiras por entre esse emaranhado de cores.

Com certeza, deixei de fora dessas linhas muitas e muitas cores que, não nos furtam de sua presença cada vez que fechamos os olhos e nossas mais ternas lembranças nos povoam.


sábado, 24 de outubro de 2020

Alvo Baiano

Tem um moço na Bahia.
Olhar parecendo tímido
e sorriso largo 
de quem é de verdade.

Tem um moço na Bahia,
de fala mansa, despreocupada,
acompanhando a prosa
que me envolve.

Tem um moço na Bahia
que eu nem conhecia,
e parece amigo de infância,
de pés no chão, sujos de lama boa.

tem um homem na Bahia
de costas largas 
e mãos fortes,
que faz o abraço virar ninho.

Tem um homem na Bahia
que me faz morder os lábios
e perder-se o olhar.
... que mexe com a menina...


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diversa



Adoro minha sombra ao meio-dia
Único momento que me faço única
Nos outros instantes
ela me faz lembrar
que sou diversa
Percebendo isso
não há como fugir
Preciso aprender a lidar
com os muitos de mim


quinta-feira, 2 de abril de 2020

"Tres Libertades"




Corpos morreram

libertando-se da dor

Se fizeram pontes

d’onde pensamentos voaram

Sentimentos, desejos e histórias

tatuaram-se no concreto

O cinza subjugou-se ao colorido

A nuvem pesada

dissipou-se em arte

Corpos ainda vivos

agarraram o muro

esmagando sua dor

Emoções ali alijadas

abriram asas

traçando as primeiras linhas

da nova História

Passos inseguros sem direção

mas certos da liberdade do caminhar

sábado, 14 de dezembro de 2019

Ponto e vírgula



Acho que não sou sedutora
Ou... talvez esteja só fazendo charme
Mas sei que me deixo seduzir
Sempre...
Me deixo seduzir por pontos e vírgulas
Me seduzo por uma quase careta de língua tímida
Me seduzo por uma voz que nem ouço
Por um olhar entre telas
E,
principalmente,
pelas reticências que há nas conversas...

Doce loucura



Acho que enlouqueci de vez.
Ou, talvez, nunca provei da sanidade.
Se provei, foi quando estive ao seu lado.
Ou era provar de doce loucura?
Não sei.
Só sei que ainda sinto o amargor no qual o doce se desfez.
Sei que te persigo.
Sei que é insano.
Mas me fazer sã diante de você...
Isso sim, seria loucura.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Me entrego


Existe um momento
que a luta cessa
Me entrego às ondas
Elas me acariciam,
me envolvem,
e me levam...
Céu e mar,
Você...
O sol esquenta meu corpo
como o beijo de julho
A vida é Azul
E eu já o sabia


segunda-feira, 11 de junho de 2018

"Espelhos bem polidos" - 07/12/2017


Fui imergir na Avenida do Contorno...
e me contornaram
me amaram...

Me Amam!

Mas antes
fiquei perdida por muuuuuuuuito tempo
Mas a menina mais bonita me disse:
me espera!
Esperei.

Chegou.
Me levou.

Mas era tannnnnnnnta gente
assustei!!!
quis voltar
...
o portão fechara
desesperei!!!
...
acalmei
...
era mesmo pra ficar
fiquei.

Não tinha porque ter medo
a menina da cachoeira prateada
estava lá
e ela só convida pra coisa boa!
mas eu o tinha
...
não o coloquei na bolsa ao arrumá-la
mas medo é bichinho safado
pulou ligeiro antes d'eu fechá-la

mas
quem não sente medo ao ver 
o menino aristocrático?
pensei:
com esse?, nem vou falar.
mas ele falou...
e falou de arte
me mostrou quadros de borboletas
me mostrou livros
e percebi que aquele ar
era só pra enganar
menino tolinho!

a menina mais sapeca e a menina que ESTÁ
foram as primeiras que encontrei
sorrindo me abraçaram e me beijaram
pensei:
aqui é bom!

Encontrei uma menina tíiiiiiiiiiiiiiimida
E depois, a menina tímida
junto com a menina índia
me protegeram na caminhada
me fizeram tão confiante
que eu quase voei

A menina sorridente
e a menina com gosto de amora
(é, havia uma menina com gosto de amora, que lugar esquisiiiiiiiiiito!!!)
ouviram atentamente o que no meu peito machucava
me colocaram no colo
me acalentaram
e o peito sorriu

o menino mistério
que estava dentro de sua caixa
tentou me enganar
e eu
cheia de cuidados pra tocar a caixa
levei um susto
...
num leve assopro
ele pulou
transbordou
ele não sabia que o concreto em seus pés era de isopor

tinha o menino abraçado ao violão
pensei:
porque ele só abraça o violão?
ninguém o avisou que aquelas cordas são pra tocar?
...
mas percebi que ele não tocava as cordas
estava lá pra tocar as almas
menino esperto!

comi uma comida boooooooooa e perguntei:
quem a fez???
aí, me surpreendi
havia sido a menina formiguinha
pequenininha
e tão grande no amor que temperava

a menina de cachos dourados era forte
falava forte
logo combinamos o próximo encontro
eu já havia percebido que estava reencontrando amigos
e com amigos marcamos encontros, né?!

tinha uma menina alta
sempre tive medo que as meninas altas me batessem
e ela me abraçou
me abraçou forrrrrrte
me orou
e eu orei
e chorei

a menina do cabelão
era boa de se abraçar
pois quando eu a abraçava
meu rosto mergulhava em seus cabelos macios
cheirosos
e aquilo era bom
era bom brincar com seus cabelos

tinha a menina sapeca
de olhinhos miúuuuudos
e orelhas em formato de coração
me ouviu com tanto amor...
e nem se espantou
que bom!!!

Mas chegou a hora de partir
fiquei com medo de sentir dor
mas a dor não veio
esperei mais um pouco
ela poderia estar atrasada
mas ela não estava
ela só esteve

Nunca me despedi com tanta certeza
pois só nossos corpos e malas é que iam
pois nós ESTÁVAMOS

Queria muuuuuuito agradecer a todos que fizeram essa história:

Angela MMB
Leila MCP
Flávio MA
Eneida MMS
Lidiane ME
Selma MT
Luciane MI
Alice MS
Priscila MGA
Abner MM
Antônio MAV
Michele MF
Inês MCD
Alessandra MA
Joana MC
Isabel MS
...
e eu?
claro, preciso me agradecer
eu sou  Virginia MA (Menina Amada)


sábado, 30 de dezembro de 2017

Minha Trama



Porque na urdidura da vida
as palavras são a trama mais forte
Vão e vem
entrelaçam minha história
desnudam minha alma
cobrem minha pele...

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Chama



...

"chama"

que chama...

"que aquece sem calcinar"

sem calcinar?

e o que dizer dessas palavras que queimam

transformando-se em poesia?

"versos sendo urdidos"

trama que vai e vem

na dança das palavras

tecitura feita a quatro mãos




sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Barro



(obra: Alex de Azevedo)


ouvi dizer que viemos do barro
lugar bonito de onde vir
matéria que mãos amorosas moldam
e depois...
nos deixam moldar-nos
um eterno movimento
ao qual se juntam
mil outras mãos
e também aprendemos a tocá-lo
amassa-lo
acaricia-lo
deixa-lo descansar
"feto" desajeitado
"mas o coração já bate forte"
semente plantada pronta pra germinar...

e ao mundo sou entregue

e floresço

            e desfolho

                         e floresço

                                     e desfolho

                                                     e floresço ...

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Coexistindo


Sempre A recebi
com um cordial aperto de mão
Ela tentava mais
eu me esgueirava

Dessa vez
me cutucou o ombro
eu virei, olhei-A assustada
Ela sorriu
deixando claro que não apertaria mais minha mão

Por um instante
não soube o que fazer
só sabia que de lá
Ela não arredaria o pé

Lhe sorri desajeitada
abri os braços
e A acolhi bemmm apertado
... e me entreguei

Éramos Eu e Minha Vida
coexistindo


Sol



Sol forte
que queima
fazendo minha tristeza
evaporar
marejando meus olhos
me acolhendo num abraço
quentinho

Sol que lambe minha pele
alimenta minh'alma
beija minha boca
taca fogo nas entranhas


sábado, 2 de setembro de 2017

Momento


...e os dedos correm por entre as teclas
e o meu pensamento voa...

Construo tua imagem
feita de abraço
Voz sussurrada dizendo oi
Olhar melífluo que também despe

e você se vai...

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Lanterna dos afogados

...perdida no horizonte
deixei que as ondas me levassem

lá estava a lanterna dos afogados

e você me acolheu num abraço
secou-me com seu carinho
e eu recuperei o fôlego

mas ali não era meu lugar

com um sorriso no rosto
me disse estar salva
e na palma da mão assoprou-me
e eu voei desajeitada
um voo sem volta

Meu arco-íris



...não há pote de ouro no fim do arco-íris
talvez não haja um beijo de amor
talvez
nem fim tenha o arco-íris

talvez seja só tristeza de palhaço
ou
sorriso rasgado de criança
(pra quem sabe ver o mundo
de cabeça para baixo)

talvez seja o arco-íris
só uma lembrança colorida

terça-feira, 21 de junho de 2016

Meu menino


Conheci um menino
Perdido
ainda não sabia quem era
mas sabia ser digno
Carregava doçura no olhar
e muito amor no coração

Teve medo do caminho
não teve medo do caminhar
Rumou-se em passos firmes e largos

Conheço um homem
que na véstia branca
se encontrou
Mais
sabe ser digno
Carrega doçura no olhar
e sempre amor no coração


quinta-feira, 21 de abril de 2016

Uma pergunta



Outro dia me perguntava 
o que fiz com a minha inteligência
Olhei para um lado
Olhei para o outro
Não havia concreto, ferro ou lata
Respirei fundo e segui
Dia desses, novamente, a pergunta
O que fiz com a minha inteligência?
Respirei fundo e repliquei
Sobrevivi

Sem cabeceiras



Minha próxima mesa,
comprarei-a redonda
Não haverá cabeceiras
Não haverá lugar de destaque
Apenas sentaremos, comeremos,
beberemos
A conversa fluirá com sorrisos, risos
e gargalhadas
E brindaremos à vida!



Além do flerte



me dê um ósculo

pra que melhor eu te enxergue



Círculos



Círculos sempre foram importantes em minha vida.

Na casa da Vó havia, do lado de fora, num varandão, um toco de mais ou menos um metro e meio que ficava na horizontal nos servindo de assento. Ali, o Vô Mazinho colocava, na diagonal, uma cadeira onde, em frente, estaria o pilão em que seria batida a paçoca.
Numa época, cabíamos quatro no toco, com o passar do tempo, só três. Os outros sentavam-se no chão e, pronto, nosso círculo estava formado.
Algum tempo depois de assistirmos àquele Senhor moreno, de fartos bigodes e braços fortes no ir e vir do soquete, eis a paçoca. A melhor de toda a minha vida.

Nós e o Vô também tínhamos encontro marcado para moer cana. Também num círculo. Era uma manilha com suas bordar dispostas pra baixo e um lajeado usado como mesa. Em cima ficava o moedor manual e nós ao redor, mais uma vez vendo o Vó mexer seus braços fortes e transformar aqueles caules num dulcíssimo caldo.
Aqui em Arraial, aprendi a tomar caldo de cana com limão, lá em Barra não havia esse hábito. O Vô iria apreciar a mistura.

A casa da Vó era uma chácara num terreno acidentado. No segundo plano havia uma mangueira onde, próximo ao seu tronco, encontrava-se uma outra estrutura de cimento, como a que sustentava o moedor de cana. Ali, ela nos servia de messa para os nossos pique-niques. Colocávamos uma toalha, que a Vó Raquel já deixava separada para tal ocasião. Nosso farnel era composto de bolo (iguaria que sempre se fazia presente na cozinha da Vó), suco e todos aqueles doces que encontramos nos saquinhos de Cosme e Damião. Comprar os doces era uma festa. A Vó ficava do portão nos vendo atravessar uma ruazinha que, o único perigo existente era sermos atropelados por um carrinho de rolimã. Mas nos sentíamos importante, afinal, íamos, sós, comprar nossos doces.
A copa arredondada da árvore protegia nossas guloseimas do sol e, também em círculo, corríamos pelo terreiro com nossos velocípedes e bicicletas.

Um outro círculo que eu adorava frequentar era o formado por três sofás e a TV, onde eu e o Vô Tininho, cada um em seu sofá, ele sentado e eu deitada, assistíamos, no início, Clube do Bolinha, depois passou a ser o Cassino do Chacrinha (que eu gostava mais) e, por fim, Programa Raul Gil, esse eu nunca gostei. Mas continuava fazendo parte do círculo, pois a companhia do meu Avô era o que o tornava importante. Mulato elegante, alto, também ostentando fartos bigodes. Caía na risada, se divertia muito com esses programas. Depois jantava e ia pra sua casinha, lá no morro.

E não posso esquecer das grandes rodas quando levantávamos poeira no terreirão dançando nossa quadrilha.

Em muitas de minhas aulas propunha aos alunos que colocássemos as carteiras em círculo, assim não ficávamos de costas pra ninguém, assim podíamos ver e não só ouvir nossos colegas. Nos círculos ninguém fica na frente, ninguém fica atrás, não existem cabeceiras. Detesto cabeceiras... Mas isso são outros quinhentos... rs


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Geminianos



Já reparou na representação do signo de gêmeos?

São dois

Mas não se completam, são completos

O geminiano não é alguém esperando por sua outra metade

O geminiano espera alguém tão completo quanto sua completude

Caminha sempre

E voa, pois tem grandes asas

Mas ele precisa do outro

Afinal, conversar é bom demais!



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Um menino assustado


Se libertou das amarras
e se viu perdido no mundo

Mundo grande
que parece engoli-lo

Das grandes asas
que descobriu ter
se fechou num abraço

Ergueu um muro alto
e por ele conversamos
jogando bilhetes 
enrolados em pedrinhas

É só isso que me permite

Tentar tocá-lo
é perdê-lo

Já posso prever o voo
pra longe
bem longe
onde possa
novamente
se sentir seguro


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Melindres Poéticos


Se as palavras vêm
que perto de nós esteja papel e pena
pois logo voam pra longe
nos jogam um beijo
não voltam mais

Palavra se faz éter
num simples piscar do desatento

Poesia é bichinho melindroso
se sente desprezada
se logo não a deitamos
no branco até então imaculado
da folha que é só sua



domingo, 10 de janeiro de 2016

Sertão


O pé do primeiro passo
mais um descompasso
esquerdo, direito
fincados ao chão

A mão que procura
as cotas
procura a resposta
de um abraço vão

A boca que engole seco
que cala a pergunta
e a cabeça se pende
sabendo ser não

O olho percorre ligeiro
enquanto o outro
se esconde do sol

O ronco que não é trovão
pingo de chuva
molhando esperança
é estômago vazio
querendo um pão

A terra se ergue rachada
mosaico sem dó
contando histórias
escritas de pó


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Beijos de Deus



... me olho
e já não me reconheço
sou um sopro
de um beijo jogado por Deus
da palma de sua mão esquerda
viajo até a face 
onde encontrar uma bochecha ao meu dispor
e Deus ...
continua sorrindo enquanto joga seus beijos



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Único Lençol


o único lençol restante
é a tela branca
onde deito minhas palavras
e suplico

aqui te amo
nada me impede
entrego-me
toda
sempre

nenhuma carne 
há de me fazer esquecer

nenhuma cama mais
terá meu amor derramado

a boca pode pronunciar
quaisquer palavras
o vento sempre as levará

só a alma
saberá o segredo

segredo que grito
não queres me ouvir

mas quando puder chegar bem perto
cochicharei doce em teus ouvidos
e tu haverás de me sorrir


Eterno Amor


Sorvo tuas palavras
elixir alimentando a dor

E sei estar viva
pois ainda pensas em mim

A certeza de ser inteira
existe
e consiste na poesia que fazes

Palavras que saltam à veia
que fazem pulsar

Escorrem nas lágrimas salgadas
enxurrada que te levou pra longe

Choro que não engoli
e tu te afogaste

Antes de morrer
ainda te darei
um último sorriso


sábado, 10 de outubro de 2015

Mandala


quando a vida nos pede andarmos em círculo,

não passarmos inúmeras vezes pelo mesmo caminho

depende da capacidade do olhar diferente,

e, de repente, voltamos à estrada ...



Chapéu violeta



Coloquemos chapéus,
flores,
roupas coloridas;

saiamos na chuva de braços abertos;

entremos no mar, mesmo vestidos;

vivamos com alegria,
e com a alegria de sermos quem somos!


terça-feira, 6 de outubro de 2015

2008 - começo do amor sem adeus



Eu nunca te esquecerei.
É uma das dores de muitas
que ainda me fazem
perceber estar viva.

Só tu a conheces,
só tu sabes o quanto
ela me consome,
só tu podes abraça-la,
e nesse momento
torná-la felicidade.

Mas tu não vens.
A dor é o que ficou desse tempo.
E se foi isso que restou de nós,
que doa.
Fecho os olhos,
e encontro teu sorriso,
enquanto me acolhes num abraço.



Resposta de amor preso no tempo



Se fui quem realmente sou,
se minha essência desnuda se fez,
esse instante ficou preso
em alguns meses de 2008.

Não fui impenetrável,
não sou impenetrável,
tu bem sabes disso.

A ave e a serpente
indo além dos instintos,
uma descobre o que é o vento
acarinhando seu corpo, sua alma,
pensamentos e desejos;
a outra experimenta
fincar-se ao chão
tendo que sentir todo o percurso,
e descobre que o caminho é real.

O toque que não nos permitimos sentir
realmente mata,
mas o abraço feito de carne,
esse nos salva,
sempre.

De mãos dadas
podemos saltar pra qualquer abismo.
Em mim, restou-me uma asa,
e sei que guardas a tua.